6. Resposta de Deus: o grande missionário para as nações – Paulo
Não é possível falar em missões na Bíblia sem mencionar o grande exemplo de Paulo, porque, depois de Jesus, ele foi sem dúvida o maior missionário de todos os tempos. Ele próprio se considera um abortivo (1 Co. 15:8) para desempenhar o seu ministério entre os gentios, sendo chamado por Deus para o ministério apostólico (At. 9:15; Gl. 1:15-16) entre os gentios (Rm. 15:19-20; 2 Co. 10:15). Com ele aprendemos que a maior preocupação da Igreja deve ser os lugares onde Cristo ainda não era conhecido (Rm. 15:20) para que o nome do Senhor fosse glorificado (2 Co. 10:16-17), pois considera que pregar sobre fundamento alheio causa choques, desperdício de tempo e de dinheiro e prejuízos morais para a obra de Deus.
Paulo tinha a convicção de que estava vivendo nos últimos dias (1 Co. 10:11). Tinha certeza de que estava vivendo um período da história em que todas as promessas de Deus estavam sendo cumpridas (Gl. 4:4; Ef. 1:10) e que o reino de Deus havia chegado e por isso era urgente o anúncio da salvação para todos os homens (2 Co. 6:2; 2 Co. 5:5-17), e ele mesmo havia experimentado o poder transformador de Cristo (1 Tm. 1:12-15). Além disso, ele estava vivenciando o tempo em que tanto judeus como gentios estavam se voltando para a adoração ao Senhor (Rm. 15:9-21; Ef. 1:10), por isso mesmo estava convicto de que a Igreja era a Plenitude de Cristo (Ef. 1:23), pois nela tanto judeus como gentios estavam sendo trazidos para a obediência de Cristo Jesus (Ef. 2:15; 4:24; Cl. 3:10).
A primeira coisa a chamar atenção na vida de Paulo é a sua certeza quanto ao seu chamado no caminho para Damasco (At. 9:22-26; Gl. 1:11-17; 1 Co. 9:1-2; 15:8-10). É aí onde ele descobre o Senhor Jesus, não apenas como Aquele que ressuscitou dos mortos, mas como o Soberano Universal que veio trazer salvação a todos – tanto judeus como pagãos – e por isso mesmo não aceita pregar outra mensagem senão a universalidade da Salvação através de Jesus (Rm. 1:1, 14, 16). Ele tinha a certeza de que havia sido chamado por Deus para edificar a Igreja (1 Tm. 3:15; 1 Co. 3:9; Ef. 2:21; 1 Co. 3:16), por isso mesmo usa com grande frequência a termo edificar quando se refere ao crescimento da Igreja (1 Co. 3:10-12; Gl. 2:18; Ef. 2:22). Nesse sentido ele demonstra que a sua missão depende totalmente da iniciativa divina e que, pela Sua soberania, Deus retira a separação que havia entre judeus e gentios (Rm. 10:12; Gl. 3:28; At. 10:36) e em Cristo edifica a sua Igreja como representante legal de Si mesmo sobre a terra (1 Co. 3:11). Paulo não observa qualquer contradição entre a atuação de Deus no trabalho missionário (Missio Dei) e a sua responsabilidade de empregar todos os esforços para tornar o propósito de Deus uma realidade prática e efetiva, muito pelo contrário, ele demonstra a sua total dependência de Deus para conseguir realizar a sua parte no processo (1 Co. 3:5-9).
Outra coisa importante na vida dele é a sua disposição missionária. Na sua primeira viagem (At. 13:1-14, 28) Paulo e Barnabé, levando consigo o auxiliar Marcos, percorreram trinta e dois países, cinquenta e quatro cidades e nove ilhas, durante seis meses. Já na segunda viagem ele separa-se de Barnabé por questões ideológicas, leva consigo o auxiliar Silas (At. 15:40-41), passa pela Síria e Cilícia e visita as igrejas que já havia organizado anteriormente (At. 15:23; Gl. 1:21). A partir de Derbe, leva também Timóteo (At. 16:1-3) e, sendo impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra na Ásia (At. 16:6-7), vão para a Macedônia, conforme a visão que Paulo teve (At.16:9-10), onde pregam a Palavra de Deus com grandes resultados para o reino. Aí percebemos a necessidade de o missionário estar sensível à voz de Deus e ir apenas aonde o Espírito o conduzir, pois Ele é que é o Senhor de Missões.
Na sua terceira viagem missionária, Paulo visita as igrejas já estabelecidas, fortalecendo os irmãos e, ao final desta, atribui a Cristo o poder, a energia e o crescimento da Igreja (Rm. 15:18-19). É nas palavras do próprio Paulo que podemos compreender o sentido da sua missão (2 Co. 5:14-21): nelas ele realça a importância da morte e ressurreição de Jesus por todos e mostra como este fato o transformou em ministro da reconciliação, lhe deu autoridade para anunciar a mensagem que lhe foi entregue pelo próprio Cristo, cujo sacrifício o tornou profundo devedor (1 Co. 9:16- 23; Gl. 6:2; Rm. 13:8), lembrando sempre da sua dependência total de Cristo, autor e consumador da fé (Hb. 12:2).
Para ele, era importante não impor o Evangelho a ninguém, mas pregá-lo com eficácia, por isso mesmo ele não admitiu que os judaizantes quisessem impor suas leis aos pagãos, nem que os pagãos quisessem que os judeus vivessem como eles (1 Co 1:22-24), pois tanto o judaísmo como o paganismo eram somente respostas humanas para as questões espirituais que apenas espiritualmente se discernem (1 Co. 2:14). Entretanto a mensagem de Paulo é o mesmo que fora dado aos discípulos: o Evangelho de Jesus morto e ressuscitado (1 Co. 15:1-5), mas desvinculado do condicionamento judaico no sentido de que Deus não discrimina ninguém e trata a todos de igual modo (Rm. 2:16; 2 Co. 4:3; Gl. 3:28; At. 10:34-35; Gl. 2:14; 1:6-8). Ele, segundo o mandado do Senhor (At. 1:8), começa pregando nas sinagogas dos judeus e de lá parte para os pagãos e entre estes se estabelece (1 Co. 14:19; At. 18:7).
Ele fundou e acompanhou o crescimento de várias comunidades cristãs em vários lugares distintos, chegando até aos confins da terra. Como método missionário ele opta pelos grandes centros urbanos e neles funda as igrejas e estabelece líderes que são preparados para alcançar as cidades circunvizinhas. Começando em centros como Corinto e Éfeso funda comunidades em Cencréia (Rm. 16:1-2), Colossos e Laodicéia (Cl. 1:7; 4:16). Organiza também um grupo de colaboradores que sustenta o seu trabalho sempre que necessário, mas também trabalha com suas próprias mãos (1 Co. 4:12; I Ts. 2:9) e incentiva as comunidades a se solidarizar com a ajuda aos necessitados (Rm. 15:25-28; 1 Co. 16:1-4; 2 Co. 1:16; 8-9; Gl. 2:10).
Ao mesmo tempo em que reconhece que a sua missão na expansão do reino de Deus entre os gentios é uma tarefa divina, esforça-se o máximo possível para persuadir as pessoas a crerem na sua pregação (1 Co. 9:19-27). Nele vemos o exemplo de trabalho missionário no qual temos a convicção de que foi Deus quem preparou as boas coisas para que andássemos nelas (Ef. 2:10) e, portanto, tudo quanto venhamos a fazer deverá ser para a sua glória (Rm. 11:36). Ao mesmo tempo, vemos também o seu esforço inigualável para ser exemplo, de modo que aponte para Cristo o tempo todo (1 Co. 11:1), por isso quase não se observam exortações para que as igrejas evangelizem, isto era algo natural nelas, uma vez que a igreja segue o seu líder.
Ele estava convencido de que a edificação da Igreja se daria através da proclamação das boas novas e pela organização de comunidades que servissem a Deus pela aceitação do Evangelho de Cristo (At. 6:7; 12:24; 19:20; Cl. 1:25). Ele tinha como alvo nada menos que o alcance de todos os gentios, de todo o mundo, de todo o remanescente fiel, do maior número possível de eleitos, em todos os lugares (Rm. 11:25; 1 Co. 9:19).
7. Resultado final da missão
Nas palavras que Jesus dirigiu a Paulo pode-se notar de forma clara e profunda a finalidade do trabalho missionário, que consiste em anunciar a salvação como forma de trazer as pessoas das trevas para a luz, do poder de Satanás para Deus, a fim de receberem a remissão dos pecados e herança entre os que são santificados através da fé em Jesus (At. 26:15-18). Dessa forma, o estilo de vida dos missionários e das igrejas passa a ser visto como modelo a ser seguido, pois tudo quanto é louvável passa a fazer parte do dia a dia da igreja e os novos na fé passam a imitá-los como forma de aprendizado e o significado de servir a Deus. (At. 9:2; 16:17; 19:9, 23; 24:22).
No livro de Apocalipse encontra-se o registro bíblico do cumprimento de todas as promessas e profecias de Deus para o mundo. Como afirma Watchman Nee no seu livro ‘Ajuda ao Apocalipse’: “o livro de Apocalipse é a consumação da revelação de Deus e a conclusão da Palavra de Deus. Sem essa parte, a Bíblia seria um livro sem um fim e muitos dos problemas que surgem nos outros livros permaneceriam sem solução. (…) o livro de Apocalipse conclui todas as profecias que foram anteriormente pronunciadas e coloca os futuros acontecimentos diante de nós, levando-nos a saber com mais segurança que um dia a criação não mais gemerá e que os crentes não mais sofrerão! ”.
Em Apocalipse encontramos a manifestação da justiça de Deus. É um livro que revela o Senhor Jesus e o seu julgamento. Nele podemos observar como Deus julga a sua Igreja, os judeus e as nações e revela a sua justiça. Ele nos lembra que alcançamos a salvação pela graça de Deus e não pelo nosso mérito, quando éramos pecadores (Ef. 2:28), mas a recompensa (1 Co. 9:24-27; Fl. 3:12-14; Ap. 2:7, 11, 17:26-28; 3:5, 12, 21) que receberemos da parte de Deus será diferente. Não a receberemos de graça, mas será obtida de acordo com as obras de cada cristão (At. 22.12, 16 – I Co. 3:8; Cl. 3:23-25), mesmo que pareçam insignificantes (Mt. 10:42; Mc. 10:43).
No livro de Apocalipse encontramos o resultado final da missão (Ap. 5:9-14; 7:1-9; 20:11-15; 21; 22). A realidade aí demonstrada são pessoas de todas as tribos, povos, raças, línguas e nações diante do trono do Cordeiro adorando-o e louvando o seu Nome, pois alcançaram a Salvação e a redenção oferecidas por Deus através de Jesus e da Sua Palavra, e estão prontos para receberem a justa recompensa pelos seus atos. O Apocalipse é a mensagem de esperança para todo o povo, pois nele observamos os efeitos das ‘Boas Novas de grande alegria’ (Lc. 2:10), da pregação (Mc. 16:15), do ensino e do batismo (Mt. 28:19-20), do testemunho da Igreja (At. 1:8) e ainda o próprio Jesus entregando ao pai o resultado da sua obra redentora da cruz (Is. 53:10-11; Hb. 12:2; Ap. 5:9-11; 7:9-17).
Desse modo podemos apresentar uma breve síntese de missões na Bíblia, para facilitar a sua compreensão da importância do tema:
a. O profeta Isaías (49:6; 52:10; 2:3-4; 14:5-7-26; 40:15-17; 22; 66:18);
b. O profeta Jeremias (1:5, 10);
c. O profeta Ezequiel (2:3; 36:23; 39:21; 37:28);
d. O profeta Daniel (7:4; 1:1-7; 9; 2; 4; 5; 7; 8);
e. O Profeta Joel (1:2; 2:28,15);
f. O profeta Amós (9:11-12);
g. O profeta Jonas (4:11; 1:2; 3:4; 4:4-11);
h. O profeta Miquéias (4:1-3);
i. O profeta Habacuque (2:14, 20);
j. O profeta Zacarias (8:20, 23; 14: 9);
l. O profeta Malaquias (1-11).
CONCLUSÃO
Concluímos este tema utilizando o documento do Terceiro Congresso de Lausanne, na África do Sul, realizado em 2010, sobre a missão integral da Igreja, que afirma: “Toda a Bíblia revela a missão de Deus de trazer unidas sob Cristo todas as coisas, no céu e na terra, reconciliando-as através do sangue da sua cruz. No cumprimento da sua missão, Deus transformará a criação ferida pelo pecado e pelo mal em uma nova criação na qual não exista mais pecado nem maldição. Deus cumprirá sua promessa a Abraão, de abençoar todas as nações na terra, através do evangelho de Jesus, o Messias, a semente de Abraão. Deus transformará o mundo partido, formado pelas nações espalhadas sob o juízo de Deus em uma nova humanidade, de toda tribo, nação, povo e língua, redimida pelo sangue de Cristo, reunidos ali para adorar nosso Deus e Salvador. Deus destruirá o reino de morte, corrupção e violência quando Cristo voltar para estabelecer seu reino eterno de vida, justiça e paz. Então, Deus, Emanuel, habitará conosco, e o reino do mundo se tornará o reino do nosso Senhor e do seu Cristo e ele reinará para sempre e sempre”. Compromisso da Cidade do Cabo (o documento do Terceiro Congresso de Lausanne, na África do Sul, em 2010)
Bibliografia
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