“… ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At. 1:8)
Por que toda a humanidade está debaixo da condenação do pecado (Rm. 5:12; Ef. 2:2-3,12; 4:17; 5:6) e a única esperança para o perdido é invocar a Jesus (Rm. 10:13; At. 2:21; Jo. 3:16), devemos entender que, onde existir pessoas, aí será o nosso campo missionário. O próprio Jesus ao enviar ou comissionar os seus discípulos disse para onde eles deveriam ir (Mt. 28:18-20; Mc. 16:15; At. 1:8). Se formos um pouco mais longe e observarmos a chamada de Abraão, percebemos que a promessa de Deus é para todas as famílias da terra (Gn. 12:1-3, 18:18, 22:18, 26:4), cada pessoa (Js. 7:14), todas as nações (Sl. 67:1-5, 72:11,17). O trabalho missionário deve ser feito em todo o lugar onde houver pessoas que não tenham o conhecimento de Deus. “Cada coração com Cristo é um missionário e cada coração sem Cristo é um campo missionário“. Já dizia o missionário Dick Hill.
Aprendemos com o apóstolo Paulo a priorizar os povos não alcançados – “Sempre fiz questão de pregar o Evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre um alicerce elaborado por outra pessoa” (Rm 15: 8-9, 16, 20). Aqui cabe informar que ao nos referirmos a povos não alcançados não estamos falando de barreiras geográficas (nações – países) e sim de barreiras linguísticas, sociais e culturais.
Muitos cristãos não compreendem porque tantos missionários são enviados para lugares como o continente africano, se até hoje ainda há povos não alcançados no nosso próprio continente. Talvez você só esteja observando o continente como um todo ou os (54) países que formam este continente, mas não sabe que dentro de um único destes países pode haver mais de 40 línguas e culturas diferentes. Assim alcançar um país (povo geográfico) não poderá significar alcançar as famílias (povo linguístico e cultural) e a necessidade de mais trabalhadores continua cada vez mais gritante e urgente.
Se a tarefa missionária é alcançar todas as famílias da terra – conforme promessa a Abraão, significa que ainda temos muito trabalho pela frente e se seguirmos o exemplo de Paulo e nos esforçarmos para chegar onde o evangelho ainda não foi pregado (não se esqueça da barreira linguística, social e cultural) significa que só para um pequeno país como Moçambique (com mais de 40 línguas nacionais), ainda precisamos enviar muitos outros missionários. Lembramos aqui também que, povo não alcançado foi definido no Congresso Mundial de Lausanne na Suíça, em 1974, como “um grupo de pessoas dentro do qual não há comunidade nativa de cristãos capazes de evangelizá-lo”. E pensando como os congressistas de Lausanne, a tarefa missionária passa a ser não só a de plantar igrejas, mas preparar uma liderança nativa capaz de mantê-la, aquando da ausência do missionário e isto implica também em mais pessoas e mais trabalho missionário.
Muitos textos bíblicos fazem referências aos lugares aonde devemos levar o Evangelho (Mt. 28:19, Mc. 16:15, Tt. 2:11,…). Edison Queiroz em seu livro A Igreja Local e Missões, tomando como base At. 1:8, dá-nos uma visão missionária global e estabelece quatro pontos estratégicos para se fazer Missões:
“Todo cristão é um missionário ou é um impostor”. C.H. Spurgeon.
Entendemos que todo cristão deve anunciar as Boas Novas de salvação. Não queremos dizer com isto que todos devem ser missionários de tempo integral. A Palavra de Deus nos dá o exemplo de que todos contribuíam com o seu talento para a edificação da igreja, mas alguns foram separados de modo específico (At. 13:1-3; Rm. 1:1; 1 Co. 12:11; Rm. 10:15).
Há aqueles que foram chamados especificamente para o trabalho de missões integral, isto é, aqueles que, a exemplo de Abraão, deixam a sua terra (deixar geográfico), a sua parentela e a casa do seu pai (deixar emocional) e vai para o lugar que o Senhor lhes mostrar (Gn. 12:1-3); que a exemplo de Jonas vai pregar para povos que pensam ser difíceis de ser alcançados; que a exemplo de Paulo vai pregar aos gentios; que a exemplo de muitos outros que ao longo da história da igreja deixaram as suas terras com o propósito único de expandir o Reino de Deus na Terra: Martinho Lutero; David Livingstone; os Morávios; John Paton; Lilian Tracher; Hudson Taylor; Oswald Smith; William Carey; Gunnar Vingren e Daniel Berg; etc.
A Palavra de Deus nos ensina que a responsabilidade missionária é, em primeiro lugar, da igreja: Igreja como indivíduo e como coletividade. A responsabilidade é Individual, pois é individualmente que as pessoas que compõem o corpo de Cristo, prestarão contas das suas obras diante de Deus (Rm. 14:12), e Coletiva porque inclui toda a assembléia dos salvos, isto é, o corpo de Cristo como um todo (At. 13:1-3; Rm. 10:13-15). É a igreja quem separa e envia o missionário, e não o missionário quem se separa e se envia sozinho. A Igreja é a verdadeira agência missionária, responsável pelo envio, coordenação de projetos e manutenção espiritual, emocional e financeira do missionário; só a igreja tem a autoridade divina para enviar e não pode deixar de exercer essa autoridade. Assim sendo, precisamos compreender como igreja que, o enviar não é simplesmente dar uma ordem para que alguém vá a algum lugar; é uma tarefa, um trabalho, um empreendimento, uma responsabilidade e obediência e que para conseguir realizar o envio, precisa aprender a depender do Espírito Santo, assim como a igreja de Antioquia em relação ao envio de Paulo e Barnabé: jejuou, orou, ouviu o Espírito Santo, impôs as mãos e os despediu.
O ir do missionário não deve ser independente do enviar da igreja. Por não serem enviados, mas se auto-enviariam muitos missionários têm sofrido, uma vez que não contam com o suporte emocional, ministerial e, por vezes, financeiro, necessários para o bom desempenho das suas funções no campo. Não podemos perder de vista que o dever (obrigação) de fazer missões é da igreja local. É ela quem avalia o trabalho e a vida do obreiro antes e depois de enviá-lo. Infelizmente muitas igrejas têm enviado pessoas rebeldes como forma de ‘livrar-se de problemas’ para o campo missionário e estes têm trazido grandes prejuízos para a obra de Deus. Alguém que é rebelde, desobediente, inconstante, neófito, etc. na igreja local não será diferente no campo missionário. Mais uma vez voltemos ao exemplo de Antioquia, que ofereceu o melhor, os obreiros mais capazes, mais preparados, mais obedientes, na verdade os líderes, por isso mesmo a igreja local deve ter posições claras sobre as nações, povos, raças e línguas não alcançadas, definição dos povos transculturais com os quais quer trabalhar e acima de tudo priorizar as metas da obra a que se propõe a fazer.
A igreja local deve ter conhecimento de todo o processo que envolve o envio missionário: A insegurança e a saudade que o missionário vai sentir ao chegar ao campo, o desafio de aprender um novo idioma, as dificuldades de adaptação climáticas e culturais (choque cultural), os gastos (impostos) com o envio de remessas financeiras para o exterior, valor de aluguel, transporte, escola (caso tenha filhos em idade escolar), abertura de conta nos Bancos do país de envio, as implicações burocráticas, bem como leis e normas governamentais, etc. É responsabilidade da igreja local fornecer todo o suporte logístico para que o missionário se preocupe apenas com a sua tarefa de proclamador do Evangelho, isto é, para que se preocupe apenas em pôr em prática os projetos de Deus para o alcance do povo para o qual foi enviado. Não esqueçam, missões é um trabalho de parceria, cooperação e intercâmbio; em que o missionário depende da igreja para encorajá-lo, sustentá-lo e apoiá-lo e a igreja precisa do missionário para alargar as suas cordas (Is. 54:2-3; 1 Sm. 30:24), levando a palavra aonde ela ainda não foi pregada. (Fl. 4:10-23).
Bittencourt, falando sobre Missões nos informa que o chamado missionário pode apresentar-se em duas formas distintas:
GERAL – (para todos os cristãos), destinada à toda a igreja:
e PARTICULAR – (individual) destinada àqueles com chamada específica:
Podemos então dizer que o projeto missionário possui três fases:
III. O envio – para enviar a igreja precisa: