“Para os que estão sem Lei, tornei-me como sem lei vivesse, a fim de ganhar os que não têm a Lei. Para os fracos, tornei-me semelhantemente fraco, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com a finalidade de conseguir, de qualquer maneira possível, salvar alguns”. 1 Co. 9:21-22
Antes de falarmos sobre os diferentes modos de se fazer missões é necessário lembrar que para iniciar um trabalho missionário deve-se primeiramente compreender a vontade de Deus em relação a missões e também estabelecer um compromisso missionário no seu cotidiano. Desse modo compreendemos que um trabalho missionário eficaz precisa ter: Visão de Deus, amor pelos perdidos e disposição para trabalhar. Não adianta saber qual é a visão de Deus, se não existir amor pelos perdidos, nem disposição em fazer alguma coisa para trazê-los para a visão de Deus. Para entender melhor vejamos o que o núcleo de estudos Monte Sião expõe sobre o assunto:
Visão – Olhar para o mundo sob a perspectiva bíblica. Saber que Jesus morreu por todos os homens. Conhecer as necessidades do homem e ter a verdadeira consciência sobre as responsabilidades conferidas a você para mudar tal situação.
Amor pelos perdidos – Uma paixão desenfreada por aqueles que se perdem no mundo. Preocupação autêntica com as pessoas que ainda não foram alcançadas pelo evangelho. Sofrimento e dor quando ouve alguma notícia sobre a situação caótica da raça humana. Sente a responsabilidade de mudar a situação.
Disposição – Levanta-se para fazer algo concreto em benefício das pessoas. Não mede esforços para trabalhar na casa de Deus. Está sempre alegre em saber que tudo aquilo que é feito para a obra de Deus é bom e satisfatório. Não importa o resultado imediato, o importante é que o nome do Senhor está sendo glorificado. Dispõe-se debaixo de uma vívida e empolgante responsabilidade para mudar a situação.
São mais de dois bilhões de pessoas que ainda não ouviram as boas notícias de salvação. Muitas destas pessoas são receptivas ao Evangelho, apesar de muitas estarem em ambientes que não condizem com a sua realidade pessoal, portanto essa é a hora certa para as igrejas e as pessoas interessadas em cumprir o mandado do Senhor, orarem pela salvação dos povos e utilizarem todos os meios lícitos possíveis, visando à evangelização total do mundo.
São muitas as atividades que podem ser realizadas no campo missionário, entre elas podemos citar: o plantio de igrejas, o treinamento de liderança local (autoctonia missionária), promoção de trabalhos sociais e educacionais, evangelismo individual e cruzadas evangelísticas, etc. Aqui apontaremos algumas formas de como fazer missões, o que não significa que o tema está esgotado, muito pelo contrário, são apenas sugestões utilizadas por muitas igrejas e missionários e que estão dando certo. Mas voltamos a repetir que o Senhor de Missões é o próprio Deus e é Ele quem nos capacita e inspira a realizar o Seu trabalho e se estivermos ligados a Ele, assim como Jesus nos ensinou, ele nos dirá, através do seu Santo Espírito, a melhor maneira de alcançarmos os perdidos ao nosso redor.
Aqui apontaremos algumas formas de como fazer missões, o que não significa que o tema está esgotado, muito pelo contrário, são apenas sugestões utilizadas por muitas igrejas e missionários e que estão dando certo:
Intercessão (Sl. 2.8; Mt. 9.38; Lc. 10.2) – a intercessão produz unidade na igreja local, desperta os cristãos para o propósito da evangelização e é o meio pelo qual o Espírito Santo se faz ouvir. Através da oração somos levados a refletir sobre a obra missionária e a necessidade dos povos e então, nos identificamos com eles nas suas necessidades e com Deus no seu amor por eles. Interceder é se colocar no lugar do outro nas dificuldades e nas vitórias conquistadas. (Fm. 17). Eunice Costa em sua apostila de missões para o seminário teológico evangélico Vida e Luz, traz ainda a informação que, na obra missionária, a oração do crente tem duas finalidades:
Cremos que para qualquer atividade no Reino de Deus é necessário primeiramente oração. Para uma oração eficaz é necessário:
Contribuição não é pagamento. Não pagamos a Deus por suas bênçãos (Rm. 11:35). Também não é uma aplicação financeira, como poupança, bolsa de valores, etc. na qual se investe para ganhar. Deus não fica devendo a quem investe na sua Obra passando a ter a obrigação de retribuir com benção, muito pelo contrário, em Lucas 6, antes de falar da retribuição de Deus àquele que dá, o apóstolo nos fala primeiro do amor ao próximo e a Deus (I Jo. 4:20), pois a adoração (Fp. 4.18) e o servir deve ser a razão da nossa contribuição (Lc. 6:32-38).
Lembramos aqui também do princípio da proporcionalidade (Lc. 12:48; 1 Co. 16:2; Gl. 6:2), com isso não quero restringir aquele que ganha pouco a contribuir pouco e usar este princípio como desculpa, lembremo-nos da oferta da viúva (Lc. 21:1-4), mas informar que não deve haver sobrecarga para aqueles irmãos que tem pouco e “folga” para aqueles que têm abundantemente, nem vice-versa (2 Co. 8:2). A contribuição para a obra de Deus deve ser: regular, isto é, constante (2 Co. 16:2), sacrificial, isto é, não contribuir apenas com o que sobra (2 Co. 9:10; 2 Co. 8:3-5) e com generosidade (2 Co. 8:2).
O livro Catecismo da Igreja Católica, publicado em outubro de 1997 pela edição típica vaticana, afirma que “a fidelidade dos batizados é a condição primordial para o anúncio do evangelho e para a missão da Igreja no mundo”. Diz também que “para manifestar diante dos homens sua força de verdade e de irradiação, a mensagem da salvação deve ser autenticada pelo testemunho de vida dos cristãos”. 2
Dezoito anos antes do lançamento do Catecismo, a 3ª Conferência do Episcopado Latino-Americano, reunido em Puebla, no início de 1979, havia registrado: “Sendo o testemunho elemento primordial de evangelização e condição essencial para a verdadeira eficácia da pregação, faz-se mister que esteja sempre presente na vida e ação evangelizadora da Igreja, de tal sorte que, no contexto da vida latino-americana, atue como ‘sinal’ que provoque o desejo de conhecer a Boa Nova e ateste a presença do Senhor entre nós”. 3
Em julho de 1867, o americano Ashbel Green Simonton, missionário pioneiro da Igreja Presbiteriana do Brasil, declarou ao Presbitério do Rio de Janeiro: “A boa e santa vida de todo crente é a mais eficaz pregação do evangelho. Na falta desta pregação, os demais meios empregados não hão de ser bem-sucedidos. Toda pregação feita por palavras, quer pronunciadas de púlpito quer impressas em uma folha ou livro, pode ser rebatida por outras palavras. Mas uma vida santa não tem réplica. A experiência de todos os tempos prova que o progresso do evangelho depende especialmente da conduta e da vida dos que são professos”. 4
Diante do exposto acima e do exemplo da igreja de Atos, notamos que o testemunho pessoal é de grande importância para a conquista dos povos para Deus e como diz Pompeu de Toledo: “[evangelizar] é impor sua verdade ao outro, é convidar o outro a adotar um novo sistema de crença e valores, a destruir aquele no qual se formou, com os resultados desestabilizadores que se conhecem em sua estrutura emocional e na vida social”. 5
A sociedade atual enfatiza o egoísmo e o egocentrismo fortalece a idéia de “cada um por si”, mas como igreja devemos andar na contramão do mundo e fazer exatamente aquilo que o Senhor nos ensina. (Mt. 5:14-16; Mt. 20:28; Mc. 10:45). O pr. José Romão Filho, em seu livro Os Seis Pilares da Igreja Missionária, faz uma citação do ex-presidente da África do Sul e premiado Nelson Mandela que cabe muito bem aqui: “ A pobreza não é um fenômeno natural. É o resultado da ação humana e pode ser superada e erradicada com ações dos seres humanos”. Cabe a igreja tomar para si essas ações de seres humanos e brilhar sobre estas densas trevas que cega grande parte da humanidade na atualidade e desse modo poderá então ser exemplo dos fiéis (e infiéis) na palavra, no amor e trato. (1 Tm. 4:12; 2 Co. 8:7; Zc. 7:9; Pv. 14:31; Gl. 6:10).
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” At. 4:12
A missão começou com o próprio Deus. No livro de Gênesis encontramos um Deus amoroso e bom criando todas as coisas com total perfeição “vendo que tudo era muito bom”, até que o pecado entrou neste mundo perfeito e estragou a criação perfeita e boa de Deus; no entanto, este mesmo Deus, conhecendo de antemão o que aconteceria, não deixou o homem perdido e escondendo-se no seu próprio erro. Ele procurou pelo homem no jardim e não somente isto, Ele procurou vestir o homem, cobrindo a sua vergonha e prometendo que da semente da mulher nasceria “um” que destruiria o inimigo para sempre. Esta missão iniciada em Deus é o que nós chamamos de Missio Dei.
Podemos dizer que Deus foi o primeiro missionário ao descer até o Éden e proclamar o evangelho a toda raça humana, através de Adão. Depois disso, Jesus, o Deus Conosco (Emanuel) fez o papel de enviado, ao completar a missão a Ele confiada e em seguida enviou o Espírito Santo que é o agente das missões contemporâneas. Assim, aprendemos que a trindade formou o primeiro concílio missionário e também foi, e ainda é, o missionário por Excelência (Is. 6:8)
Ao definir missões e missiologia devemos partir da visão de que é uma atividade primordialmente de Deus. É Ele quem inicia e conclui o projeto missionário elaborado por Ele mesmo. Em missões vemos o agir de Deus para resgatar uma humanidade perdida em seus pecados. Carriker afirma: “A missão soberana de Deus chegará a sua conclusão com a participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação e todo povo. É na segurança da missão de Deus que a igreja assume a sua missão (missiones ecclesiae)”. (Carriker. 1992. p.36). O plano de Deus para a salvação do homem é constituído de três elementos: a mensagem (o Evangelho, as boas novas de salvação em Jesus Cristo), o meio (a missão, enviar) e o processo (a evangelização, a proclamação).
Muitos teólogos e missiólogos têm defendido a idéia de que a Missão começa e termina em Deus. Brandt defende que “o sujeito da missão é o próprio Deus em sua palavra”, falando sobre o papel de Deus na obra missionária. James A. Scherer, em seu livro Evangelho, Igreja e Reino, p. 44, declara que, segundo Lutero, a Igreja, a Palavra de Deus e os crentes são vistos juntos “como instrumentos divinos cruciais para a missão […] em nenhum lugar o reformador faz da igreja o ponto de partida ou o alvo final da missão […] É sempre a missão do próprio Deus que domina o pensamento de Lutero, e a vinda do reino de Deus representa sua culminação final”. Portanto, como igreja de Deus somos chamados a participar da Sua Missão salvadora para toda a humanidade.
Desse modo percebe-se que a Missão é antes de tudo a missão de Deus e que o que se transmite não é somente o fato de ser enviado, mas todo o conteúdo do envio, começando pela obra do Pai que é preciso ser realizada pela igreja de modo geral, e por cada crente em particular. O Novo Testamento mostra que Jesus, sendo enviado por Deus (Jo. 20:21), delegou toda a sua missão aos discípulos (Mt. 28; Mc. 16; Lc. 24; Jo. 20 e At. 1:8). Essa Missão não é um novo mandamento ao lado de outros, não é “outra” obra. A missão é tudo, é toda a vida dos discípulos, no tempo, no espaço e na intensidade.
Jesus, o Verdadeiro e Eterno Deus (1 Jo. 5:20), “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo e fazendo-se a semelhança dos homens” (Fp. 2:7); tornou-se carne (Jo. 1:14; I Tm. 3:16) através da ação do Espírito Santo no ventre de Maria (Lc. 3:15), chegando a plenitude dos tempos (Gl. 4:4-5) com o objetivo de despojar (Cl. 2:15), prender (Mt. 12:29) e aniquilar Satanás, livrando a todos os que estavam sujeitos à servidão (Hb. 2:14-15).
Assim, a humanização de Jesus foi o grande milagre de Deus, para se tornar o “Parente Remidor” (Lv. 25:25-28; Dt. 25:5-10; Rt. 2:1-20 e 3:11 – comp. Jo. 1:1,14; Rm. 1:2; Gl. 4:4, Fp. 2:5-8; 1 Tm. 2:15; Hb. 2:14,16,17; 10:51; 1 Co. 6:20; 1 Pe. 1:18,19) da humanidade através do pagamento do preço exigido para tal (Cl. 2:13-14; 2 Co. 5:19). Porém, ainda que a salvação ganha através de Jesus seja de alcance universal, a maior parte do mundo ainda não tem conhecimento do benefício ao qual tem direito (Mt. 9:37), portanto, cabe a igreja a tarefa de continuar a obra iniciada por Deus, paga por Cristo e corroborada com o Espírito Santo para a salvação de todos os que perecem.
João 3:16 demonstra o plano missionário de Deus se concretizando através do envio de seu único Filho ao mundo para continuar a história da redenção numa indescritível expressão de amor. Amor este que ultrapassa fronteiras culturais, racionais e lingüísticas, não se restringindo a uma única raça, nação ou grupo cultural, mas se prolonga por todos os povos, tribos, nações e línguas, conforme 2 Pe. 3: 9.
O Espírito Santo é o poder para a realização de missões. Em Atos encontramos as grandes realizações dos apóstolos no início da expansão do cristianismo em Jerusalém. Porém, nada do que fizeram seria possível sem que tivessem obedecido a ordem de Jesus de ficar na cidade até ser revestidos do poder do Espírito Santo (Lc. 14:49 – comp. At. 1:8). Depois de receberem o Poder, estavam prontos para realizar a tarefa para a qual foram chamados.
O Espírito Santo é o grande impulsionador que chama e encoraja os missionários (At. 13:2) e ao mesmo tempo convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo. 16:8). É Ele quem convence o pecador a aceitar a mensagem pregada pelos missionários, fortalece e direciona o missionário para a realização do Projeto de Deus; É Ele quem garante a libertação e a cura; É Ele, o Deus Espírito, quem realiza a tarefa missionária nos dias atuais através daqueles a quem Ele mesmo chama.
É através da Bíblia que conhecemos o propósito de Deus de se revelar a todos os povos da terra. Missões, portanto, está no centro da Bíblia. Nela encontramos o mandato, a mensagem e o modelo da evangelização no mundo. A Bíblia é o manual de fé e prática do cristão. É nela onde encontramos o plano de Deus para a salvação da humanidade. Ela nos dá a ordem e o poder para a realização da obra missionária. Através dela, Deus comunica as Boas Novas ao mundo inteiro (Mc. 16:15). Ela é o manual de missões e de todas as atividades missionárias da igreja (2 Tm. 3:16-17), além de ser o meio pelo qual Deus nos oferece a fé necessária para a salvação (Rm. 10:17) e nos revela a Verdade (Jo. 8:32). Sem a Palavra de Deus seria muito difícil para a igreja realizar Missões.
É na Bíblia também que encontramos as primeiras missões. Além disso, nos ensina como plantar igrejas locais, as estratégias de evangelização, as possíveis atividades de um missionário no campo, o papel da igreja missionária e os problemas enfrentados no campo. Ela nos inspira e orienta como fazer missões e é a única fonte inspiradora de Teologia e ética. Desde Gênesis ao Apocalipse apresenta o plano, a realização e a consequência de Missões para o povo de Deus, e toda a humanidade. O livro de Atos se destaca nesta função, pois registra os grandes trabalhos missionários da igreja.
CONCLUSÃO
Missão transcultural é um movimento de caráter universal em sua mensagem, que não se restringe a uma só cultura, mas tem alcance abrangente, em todos os termos da terra, onde quer que haja uma etnia, uma pessoa, uma raça, uma tribo, uma língua, uma nação, um povo que ainda não tenha ouvido o evangelho.
É a visão panorâmica de um mundo que vive sem Deus, sem paz e sem salvação, a espera da esperança libertadora e salvadora do Evangelho de Cristo Jesus que nos constrange a realizar o trabalho missionário.
Não podemos nos conformar, nem encarar o fato de haver tantos perdidos, sem o conhecimento de Deus de maneira natural, este fato deve nos inquietar, deve incomodar a todos os que amam a Cristo Jesus e querem ver cumprido o escrito em Ap 7.9 “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão a qual ninguém podia contar, de todas as nações e tribos, e povos, e línguas que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos”.
Bibliografia
BERGSTEN, Eurico. Missões, o desafio final. CPAD. Rio de Janeiro, 1982.
BEZERRA, Durvalina Barreto. Oração e missões – Parte 1 – Princípios da Intercessão. Artigo. 27/06/2013. Betel Brasileiro
BITTENCOURT, pr. José Domingos. Apostila de Missões. Igreja Jesus é o Verbo. Junta Missionária Compromisso e Amor.
BOSCH, David: Missão transformadora. Mudanças de paradigmas na Teologia da Missão. São Leopoldo: Sinodal–EST, 2002. (Trad. do original: Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission, Orbis Books (Maryknoll, NY: 1991, por Geraldo Korndorfer e Luís M. Sander).