INTRODUÇÃO
Nesta introdução à Teologia Sistemática estudaremos o significado e o propósito da teologia como ciência de Deus e das coisas relacionadas a Ele; apresentaremos algumas definições e conceitos de teologia e falaremos sobre seus propósitos, sua necessidade, possibilidade, fontes e métodos e ainda analisaremos suas divisões e respectivas subdivisões.
Uma introdução, como o próprio nome indica, não passa de uma exposição breve como modo de preparação para o estudo mais aprofundado de uma matéria. Portanto, estudaremos aqui apenas os elementos, os rudimentos iniciais da teologia, o que não o impede de ampliar e aprofundar estes estudos quer através de um Curso de Teologia, quer através de livros.
O pe. Marciano Guerra em seu curso de Teologia para Leigos apresenta quatro passos do processo teológico como momentos necessários para fazermos uma boa teologia e determinar os seus resultados. São eles:
O conceito de teologia teve sua origem na tradição grega, mas ganhou conteúdo e método somente dentro do cristianismo. Foi com Platão que o conceito surgiu pela primeira vez. Ele associou ao termo teologia uma intenção polêmica, assim como também fez seu discípulo Aristóteles; Para Platão, a teologia descrevia o mítico e podia ter um significado pedagógico e temporário benéfico ao estado.
A identificação entre teologia e mitologia continuou no pensamento grego durante muito tempo e diferentes dos filósofos, os “teólogos” confundiam-se com os poetas míticos, como Hesíodo e Homero.
Para os gregos a teologia se tornou significativa como meio de proclamar os deuses, de professar a fé e de ensinar a doutrina, prefigurando o que mais tarde se tornou a teologia no cristianismo. Apesar de todas as contradições que emergiriam na formulação desse conceito nas várias confissões e escolas cristãs de pensamento, um critério formal permaneceu constante: teologia é a tentativa, levada à prática pelos adeptos de uma fé, de representar suas afirmações de crença de modo consistente, explicando-as a partir de seus fundamentos e relacionando a religião às demais referências humanas, como a natureza e a história, e aos processos cognitivos, como a razão e a lógica.
Existem, pelo menos, três concepções básicas para o termo teologia cristã. A mais ampla diz respeito ao conjunto de conhecimentos teológicos ministrados em cursos ou em faculdades e seminários teológicos. A intermediária diz respeito ao campo circunscrito, dentro da teologia, concernente a determinada área ou campos teológicos, como, por exemplo, Teologia Sistemática, Teologia Moral, Teologia Bíblica etc. A mais restrita também chamada Teologia Propriamente Dita, diz respeito a escritos dogmáticos para designar a doutrina de Deus, subdivisão da área de teologia sistemática que trata da natureza divina e de Seus atributos.
O pe. Marciano Guerra em seu curso de Introdução à Teologia: Fé e Razão para leigos, nos dá um conceito interessante de Teologia. Ele nos informa que, a Teologia pode ser definida como a ciência na qual a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça em compreender melhor os mistérios revelados em si mesmos e em suas consequências para a existência humana. Citando Anselmo de Cantuária escreve: “Fides quaerens intellectum”, isto é, a fé que busca compreender. Assim A Teologia é uma reflexão à luz da revelação e da fé. A fé é objeto da teologia, é sua matéria prima, tema, assunto. A fé também é o diferencial da teologia, enquanto luz que ilumina a razão que busca compreender. Simultaneamente, a teologia é reflexão sobre a fé e à luz da fé. E citando João Paulo II, completa “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-Lo, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”. (João Paulo II, Carta Enciclica Fides et Ratio, n. 1).
Podemos ainda dizer que a teologia é uma elaboração da cosmovisão cristã baseada na Bíblia. No contexto da fé cristã, a teologia não é o estudo de Deus como algo abstrato, mas é o estudo do Deus pessoal revelado na Bíblia; o que inclui tudo o que é revelado sobre Deus, suas obras e relações com as criaturas.
Existem várias definições de Teologia Sistemática ou Teologia Propriamente Dita, entre elas podemos citar: Teologia vem do grego Theos, Deus e Logos, estudo e pode ser definida como “A Doutrina de Deus e suas relações com o universo” (Alexandre Milhoranza). Precisamos entender que o vocábulo ‘teologia’ contém o termo logos. Teologia é logia, lógica, logística fundamentalmente possibilitada e definida pelo Theos, Deus (BARTH, 1996, p. 18). Estudar teologia é buscar conceituar sobre Deus em sua natureza e pessoa, sua criação na direção da compreensão do processo de redenção na história da salvação. Etimologicamente teologia significa o estudo racional sobre Deus, ciência de Deus ou estudo das coisas divinas. Uma definição mais completa seria: Teologia é a ciência que trata do estudo de Deus e de Suas relações com o homem, o universo e a verdade religiosa.
A) Chafer: Uma ciência que segue um esquema ou uma ordem humana de desenvolvimento doutrinário e que tem o propósito de incorporar no seu sistema a verdade a respeito de Deus e o Seu universo a partir de toda e qualquer fonte (Lewis Sperry Chafer).
B) Chafer: Teologia sistemática pode ser definida como a coleção, cientificamente arrumada, comparada, exibida e defendida de todos os fatos de toda e qualquer fonte referentes a Deus e às Suas obras. Ela é temática porque segue uma forma de tese humanamente idealizada, e apresenta e verifica a verdade como verdade (Lewis Sperry Chafer).
C) Alexander: A ciência de Deus… um resumo da verdade religiosa cientificamente arranjada, ou uma coleção filosófica de todo o conhecimento religioso (W. Lindsay Alexander).
D) Hodge: A teologia sistemática tem por objetivo sistematizar os fatos da Bíblia, e averiguar os princípios ou verdades gerais que tais fatos envolvem (Charles Hodge).
E) Strong: A ciência de Deus e dos relacionamentos de Deus com o universo (A. H. Strong).
F) Thomas: A ciência é a expressão técnica das leis da natureza; a teologia é a expressão técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos espirituais da revelação, calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos. A doutrina, assim, corresponde às generalizações da ciência (W. H. Griffith Thomas)
G) Shedd: Uma ciência que se preocupa com o infinito e o finito, com Deus e o universo. O material, portanto, que abrange é mais vasto do que qualquer outra ciência. Também é a mais necessária de todas as ciências (W. G. T. Shedd).
H) Charles Hodge escreveu: “E importante que o teólogo conheça seu lugar. Ele não é senhor da situação. Ele não pode construir um sistema teológico com vistas a adequar sua fantasia, mais do que o astrônomo não pode ajustar o mecanismo dos céus segundo sua própria vontade. Como os fatos da astronomia se organizam em determinada ordem, e não admitirão nenhuma outra, assim se passa com os fatos da teologia. Teologia, portanto, é a exposição dos fatos da Escritura em sua ordem própria e relação, com os princípios ou verdades gerais envolvidos nos próprios fatos, os quais complementam e se harmonizam como um todo.”
I) Herman Bavinck apresenta a seguinte definição: “A teologia é a ciência que extrai o conhecimento de Deus de sua revelação, que estuda e pensa sobre ela sob a orientação do Espírito Santo e então, tenta descrevê-la de forma a honrar a Deus.”
J) Wayne Grudem afirma: “Teologia sistemática é qualquer estudo que responda à pergunta ‘O que a Bíblia como um todo nos ensina hoje?’ acerca de qualquer tópico.”
K) A definição de John Hammett é muito boa porque expressa os vários elementos da tarefa da teologia sistemática: “Teologia sistemática é aquela disciplina que tenta dar uma exposição coerente das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas Escrituras, falando às perguntas e questões da cultura e época em que ela existe, com aplicação à vida pessoal do teólogo e outros.”
(1) A teologia sistemática precisa oferecer uma exposição lógica e coerente: sua tarefa é elaborar um sistema. A teologia sistemática trata das doutrinas da Bíblia, através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre elas e mostra como as doutrinas Bíblicas se relacionam logicamente. Constituindo e comunicando, a partir dos dados da Bíblia, uma cosmovisão que abrange todas as áreas da vida que são tocadas pela própria Bíblia.
(2) A Teologia sistemática deve estar baseada na Bíblia: a teologia sistemática procura ser abrangente em relação aos vários aspectos da vida humana, mas não vai além do que está dito nas Escrituras. Evitando assim especulações, a não ser que o próprio teólogo admita que ele esteja fazendo especulação, evitando a tentação de atribuir uma autoridade igual a da Bíblia às suas próprias especulações.
(3) A teologia sistemática deve ter a prática cristã como seu objetivo: embora precise tratar com questões abstratas e complicadas, o teólogo deve sempre mostrar a diferença que as suas conclusões fazem na vida diária dos crentes. A teologia ela existe para que possamos conhecer, obedecer e amar melhor a Deus, isto é, os estudos e discussões teológicos precisam ter como alvo final a melhora no testemunho prático do cristão.
Embora não se encontre nas Escrituras, a palavra teologia é bíblica em seu caráter. Em Rm.3:2 encontramos ta logia tou Theou (os oráculos de Deus); em I Pd. 4:11 encontramos logia Theou (oráculos de Deus), e em Lc. 8:21 temos ton Logon tou Theou (a Palavra de Deus).
OBJETIVO e PROPÓSITO DA TEOLOGIA
A teologia tem por objetivo averiguar os fatos a respeito de Deus e das relações entre Deus e o universo e apresentar esses fatos de forma racional, como partes conectadas de um sistema formulado e orgânico de verdades.
A teologia, como corpo doutrinário coerente, é a tentativa de conciliar fé religiosa e pensamento racional. Ela é necessária para defender o cristianismo contra ataques e também para propagá-lo.
O propósito da teologia é demonstrar a verdade de Deus e por isso mesmo o cristão nem deveria precisar de outra justificativa para estuda-la. Entretanto, queremos expor de forma simples e rápida alguns motivos pelos quais o cristão deve estudar e fazer teologia.
Vale ressaltar que o conhecimento de Deus é possível somente porque ele fez o homem à sua própria imagem, de forma que há um ponto de contato entre os dois, a despeito da transcendência de Deus (CHEUNG, 2001,2003, p. 7). Podemos conhecê-lo porque somos sua imagem e Ele se auto revelou a nós.
Contudo, como somos limitados, será necessária a busca do conhecimento de Deus para que entendamos nossas origens. Conhecer a Deus é conhecer a nós mesmos. Por isso, uma das maiores razões para se estudar teologia é o valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. E, visto que Deus Se revelou através da Escritura, conhecer a Escritura é conhecê-Lo, e isto significa estudar teologia (CHEUNG, 2001,2003, p.10).
Segundo Erickson (1997, p. 17), o estudo teológico é importante por três razões:
(1) Crenças doutrinárias corretas são essenciais no relacionamento entre o cristão e Deus;
(2) A doutrina é importante por causa da ligação entre a verdade e a experiência; e
(3) A compreensão correta da doutrina é importante porque hoje há muitos sistemas de pensamento religiosos e seculares que disputam nossa fé. Sendo assim, faz-se necessário a teologia para fazer frente aos falsos ensinos e a necessidade do crescimento espiritual de todo cristão.
Em conclusão, o estudo teológico deve ser produzido num ambiente de fé e adoração. Bavinck disse: “O temor de Deus deve ser o elemento que inspira e anima a investigação teológica. Isso deve marcar a cadência da ciência. O teólogo é uma pessoa que se esforça para falar sobre Deus porque ele fala fora de Deus e por meio de Deus. Professar a teologia é fazer um trabalho santo. É realizar uma ministração sacerdotal na casa do Senhor. Isso é por si mesmo um serviço de culto, uma consagração da mente e do coração em honra ao Seu nome.”
A NATUREZA DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA
Deus é o “objeto de estudo” da teologia e por isso mesmo compreendemos que a doutrina cristã é apenas a declaração das crenças mais fundamentais do crente: crenças sobre a natureza de Deus; sobre Suas ações; sobre suas criaturas (nós, humanos); e sobre o que Deus fez para nos trazer de volta à comunhão com Ele (…). A doutrina trata das verdades gerais sobre Deus e sobre o restante da realidade. Não é apenas um estudo de eventos históricos específicos, tais como o que Deus fez, mas da própria natureza do Deus que atua na história. (ERICKSON, 1997, p. 15-16)
Distinções da Teologia
A teologia é uma ciência e tem sido chamada de a rainha das ciências, devido a nobreza de seu objeto de estudo. Entendendo ciência como o conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e orientar a natureza e as atividades humanas, isto é, algo que possui um objeto de estudo delimitado, um problema e uma hipótese, um método lógico e rigoroso de pesquisa e variáveis a serem comparadas, comprovadas e comunicadas.
Assim sendo, a Teologia pode ser considerada como Ciência, pois:
(1) Aceita as mesmas regras da lógica que as outras disciplinas. Quando surgem dificuldades, a teologia não invoca um paradoxo ou incompreensibilidade, ela procura demonstrar de forma lógica aquilo que é compreensível através da fé.
(2) Ela é comunicável – pode ser expressa em forma verbal proposicional e perfeitamente compreensível à qualquer ouvinte e/ou estudante.
(3) Até certo ponto, ela emprega métodos usados por outras disciplinas específicas, especialmente a história e a filosofia.
4) Ela partilha alguns objetos de estudo com outras disciplinas. Portanto, existe a possibilidade de pelo menos algumas de suas proposições serem confirmadas ou refutadas por outras disciplinas, tais como a ciência natural, a ciência do comportamento ou a história e até mesmo a arqueologia (ERICKSON, 1997, p. 18)
A Teologia diferencia-se das Ciências Exatas e assemelha-se às Ciências Humanas, pois trabalha com conceitos abstratos e eternos que precisam ser compreendidos concretamente na temporalidade. Por isso, representa um trabalho ‘científico’ que têm por objetivo perceber um objeto ou uma área do fenômeno, compreendê-lo em seu sentido e tematizá-lo em todo o alcance de sua existência – e isso, dentro do caminho indicado pelo próprio objeto em questão. O termo ‘teologia’ parece indicar que ela, por ser uma ciência particular visaria perceber, compreender e tematizar a Deus’ (BARTH, 1996, p. 9).
Ela também se distingue da ética e da filosofia. A teologia estuda Deus e Suas relações; a ética estuda os juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal; a filosofia é tentativa de conhecer todas as coisas, só pelo uso da observação e da razão, sem partir de Deus e Sua Palavra.
Teologia e religião também não é a mesma coisa. Enquanto a teologia é o conhecimento de Deus, a religião é a prática da vontade de Deus. Ambas são importantes e devem coexistir na vida cristã verdadeira, porém em muitos casos estão distanciados de tal modo que é possível ser teólogo sem ser religioso, e religioso sem ser teólogo. O ideal é o conhecimento e a prática juntos. O teólogo deve praticar o que conhece (Tg. 1:25) e o religioso deve conhecer o que pratica (I Pd. 3:15).
AS FONTES DA TEOLOGIA
O nosso conhecimento de Deus está baseado em duas fontes: Suas obras e Sua Palavra. Dois livros: o livro da natureza (Teologia Natural) e o livro das Escrituras (Teologia Revelada). Para que aconteça a produção da teologia, é preciso levar em consideração quais são as suas fontes. Podemos citar as seguintes fontes das quais a teologia faz uso:
Das quatro fontes citadas acima, a mais objetiva e confiável é a das Escrituras. Assim, a teologia, refere-se também ao estudo da Escritura ou à formulação sistemática das doutrinas dessa. Uma doutrina verdadeiramente bíblica é sempre autorizada e obrigatória, e um sistema de teologia é somente autorizado até onde ele reflita o ensino escriturístico (CHEUNG, 2001, 2003, p. 5). Assim, (…) em sua palavra Deus revela o seu agir no horizonte de sua aliança com o ser humano, é a chamada Revelação do Deus do ser humano e na história da constituição, manutenção, realização e conclusão desta aliança ele se revela a si mesmo, a chamada Revelação do ser humano como ser humano de Deus (…) (BARTH, 1997, p. 19)
O assunto da teologia evangélica não poder ser outro além de Deus – Deus na história de suas ações (… e) A teologia evangélica deixaria de ser ela mesma se, em vez de proclamar os ‘grandes feitos de Deus’ se dispusesse a constatar e a proclamar um Deus coisificado ou quaisquer coisas ou objetos divinos (BARTH, 1997, p. 12).
Por isso, nenhuma exposição sobre Deus seria completa se não englobasse Suas obras e Seus caminhos no universo que Ele criou, além de Sua Pessoa. Toda ciência provém e mantém relação com o Criador de todas as coisas e com Seu propósito na criação. E toda verdade é a verdade de Deus, onde quer que ela seja encontrada. Deus se revelou na criação e nas Escrituras, e a verdade achada pelas ciências naturais e sociais, por cristãos ou profanos, não é verdade profana; é verdade sagrada de Deus (Cl.2:3).
Portanto é perfeitamente lícito utilizar-se de outras fontes, enquanto verdade, para o estudo da teologia. O estudo teológico que incorpora em seu escopo o exame das ciências naturais e sociais, é a que chamamos de teologia sistemática e ela se preocupa em estudar a doutrina cristã definida como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso.
Para a teologia sistemática, porém, doutrinas são as verdades fundamentais da Bíblia dispostas em forma sistemática. Não se pode confundir doutrina e dogma. Doutrina (do lat. ensino) é a declaração de Deus acerca da verdade apresentada nas Escrituras; dogma é a declaração do homem acerca da verdade apresentada num credo. Assim a doutrina é importante por pelo menos cinco razões.
(1) Ela supre a necessidade de uma declaração autorizada e sistemática sobre a verdade num mundo de descrença e heresia;
(2) Ela sistematiza as verdades das Escrituras;
(3) Ela determina nosso caráter e destino, já que aquilo em que acreditamos modela nossas ações;
(4) Ela é um baluarte contra o erro, pois serve de critério para a verdade;
(5) Ela nos equipa para o serviço aceitável, pois fortalece nossa fé ao darmos a razão do que cremos (I Pd. 3:15).
Doutrina das Escrituras ou Bibliologia
I. O porquê das Escrituras.
Deus tem Se revelado através dos tempos por meio de Suas obras ou seja, por meio da Criação (Rm. 1.20; Sl.19.1-6). Porém, Sua revelação Especial aconteceu através de Cristo – A Palavra Viva (Jo.1.1) e das Escrituras – A Palavra Escrita. Esta revelação Especial tornou-se necessária devido à queda do homem.
A própria Bíblia demonstra a necessidade de estudá-la (1Pe. 3.15; 2 Tm 2.15; Is 34.16; Sl.119.130). Motivos para ler a Bíblia:
Conhecer a Bíblia nos dá uma real esperança e paz quando tudo ao nosso redor parece estar se desmoronando (Rm 15.4; Sl 112.7; Hb 3.17-19).
Jesus é, indubitavelmente, o tema Central da Bíblia. (FP. 2.9,10,11)
Deus guiou as pessoas que escreveram os diferentes livros da Bíblia, para transmitir Sua mensagem ao mundo. Deus lhes deu as palavras que deveriam ser escritas. A própria Bíblia dá testemunho da sua inspiração divina (2 Tm 3.16-17; Lc 24.45; Jo 10.35; Lc 4.21; 1 Tm 5.18 cf. Dt 25.4 e Lc 10.7; 2 Pe 3.16; 2 Pe 1.21; 1 Co 2.13).
Vejamos as informações a cerca da definição de inspiração da Bíblia e dos desvios da doutrina da inspiração:
Uma definição abrangente de inspiração seria: Deus supervisionou os autores humanos da Bíblia para que compusessem e registrassem, sem erros, sua mensagem à humanidade utilizando as palavras de seus escritos originais.
Isso significa que Deus não ditou as palavras da Bíblia (algumas vezes até o fez) para os escritores, mas os supervisionou soberanamente para que, no uso de suas capacidades mentais e habilidades, compusessem um material que fosse verdadeiro (Jo 17.17) e que fosse o que Deus desejava nos revelar.
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular Interpretação”. (2 Pe 1:20)
A harmonia e unidade da Bíblia constituem numa prova de que a mente de DEUS via tudo e guiava os seus escritores. Elas representam também um milagre inigualável. Em nenhum outro lugar e nem em tão diversas circunstâncias, jamais se juntaram tantos tratados diferentes contendo história, biografia, ética e poesia, para perfazer um livro. É algo semelhante a ossos, músculos e ligamentos que se combinam na forma do corpo humano, Quanto à sua harmonia e unidade a Bíblia não tem nenhum paralelo com a literatura humana, visto que todas as condições, humanamente falando, não apenas são desfavoráveis, mas fatais a tal combinação.
1. Detalhes da Harmonia da Bíblia
A existência da Bíblia até aos nossos dias só pode ser explicada como um milagre. Seus 66 livros escritos por cerca de 40 homens, num período de mais ou menos dezesseis séculos, somam-se num só com uma mensagem harmônica. Seu aspecto miraculoso realça quando estudamos os seguintes elementos, partes do seu processo de preparação como livro.
Os escritores da Bíblia foram homens de, praticamente, todas as atividades da vida humana conhecidas, razão por que encontramos os mais variados estilos na sua escrita. Moisés foi príncipe e legislador. Josué foi um grande soldado. Davi e Salomão foram reis e poetas. Isaías, estadista e profeta. Daniel, ministro de Estado. Pedro, Tiago e João, pescadores. Zacarias e Jeremias, sacerdotes e profetas. Amós, agricultor e vaqueiro. Paulo, teólogo e erudito, e assim por diante. Apesar de toda essa variedade de formação e ocupação profissional dos escritores da Bíblia, examinados os seus escritos, é possível notar como os mesmos se completam, tratando de um só assunto. O que eles escreveram não se constitui em muitos livros, pelo contrário, são partículas que somadas formam um só livro, poderoso e coerente.
O estudante da Bíblia cedo descobrirá que não houve uniformidade de condições na composição do texto sagrado. Note por exemplo que: Moisés escreveu os seus livros nas solitárias paragens do deserto. Jeremias, nas trevas e imundícies duma masmorra. Davi, nas campinas, elevações dos campos. Paulo escreveu suas epístolas ora em prisões, ora em viagens. João escreveu o Apocalipse exilado na ilha de Palmos. Não obstante tantas e diferentes condições em que os livros da Bíblia foram escritos, juntos eles são duma uniformidade incrível. O pensamento de DEUS, e não propriamente dos seus escritores, corre uniforme e progressivamente através dela. Esta harmonia e perfeição é uma característica exclusiva do Livro de DEUS.
Os escritores da Bíblia estavam sujeitos as mais variadas circunstâncias quando escreveram os seus respectivos livros. Davi, por exemplo, escreveu parte dos seus escritos no calor das batalhas; enquanto que Salomão escreveu na paz e conforto dos seus palácios. Alguns dos profetas escreveram seus livros em meio a mais profunda tristeza, ao passo que Josué escreveu o seu livro em meio à alegria das conquistas de Canaã. Apesar dessa pluralidade de condições, a Bíblia apresenta um sistema de doutrina uniforme, uma só mensagem de amor, um só meio de salvação.
Conclusão
A Bíblia é um livro excepcional. Ele é a mensagem direta de Deus para o homem, e tem poder para transformar vidas. A Bíblia é a Palavra do Criador para o mundo! Ela conta a história da humanidade desde a criação de tudo o que existe até os primeiros acontecimentos após a morte e a ressurreição de Jesus, o filho de Deus.
A Bíblia é um conjunto de obras escrito por diferentes autores em diferentes épocas da história! Em tábuas de pedra, pergaminhos e papiros, escritos em diferentes épocas e por diferentes pessoas. Por ser escrita em diferentes línguas, sendo que alguns idiomas já caíram no esquecimento, fizeram com que a Bíblia passasse por inúmeras traduções e adaptações para que assumisse o formato e conotação que conhecemos hoje.
A existência de Deus é um fato indiscutível para o cristão. A verdadeira Teologia não busca dissecar o Ser de Deus, mas apresenta-Lo de modo compreensível ao homem. Logicamente um Ser Eterno, Onipotente, Onisciente, Onipresente e Santo como é o nosso Deus não pode ser plenamente apurado pelo homem cuja capacidade é limitadíssima. Entretanto, procuramos estudar de forma muito breve sobre a existência de Deus e as evidencias disto, a Personalidade de Deus, Sua Natureza e a Trindade a fim de poder defender a nossa fé quando e se necessário.
A crença na existência de Deus é praticamente universal. Essa crença está enraizada até entre nações e tribos considerados menos civilizados da terra. Entretanto, isto não significa que não existam pessoas que neguem tal fato. Há ainda aqueles que creem na existência de Deus, mas não como a Bíblia ensina o que é outra forma de negar a Sua existência. Aliás, no decorre da História muitas formas de negar a existência de Deus se formaram. Entre elas:
O Ateísmo – Nega a existência de Deus. Dividem-se em duas classes: O Prático e o Teórico. O Prático diz respeito àqueles ateus sensivelmente sem Deus, que na vida prática não reconhecem a Deus e que vivem como se Deus não existisse (Sl.10.4). Já os Teóricos são geralmente um grupo mais intelectual e baseiam a sua negação de Deus no desenvolvimento de um raciocínio. Tratam de provar através de argumentos considerados razoáveis e conclusivos, que não há Deus.
O ateísmo tem como objetivo suprimir a Pessoa de Deus do coração e da mente do homem. O ateu engana a sua razão, a sua consciência.
O Agnosticismo – ignora tudo o que não está sob o domínio dos sentidos. Não acredita mas também não nega a existência de um Deus ou divindade, afirmando que o conhecimento humano não é capaz de obter dados racionais que provem a existência de entidades sobrenaturais.
O defensor do agnosticismo crer que nem a criação, nem os conhecidos fatos testemunhando a existência de Deus podem fazê-Lo conhecido. Eles afirmam que não podem crer naquilo que não podem ver e apalpar. Assim todas as coisas, incluindo a fé em Deus são relativas, isto é, o homem não pode saber qualquer coisa sobre Deus porque as provas de Sua existência estão fora do domínio das coisas materiais.
O Deísmo – afirma que a existência de Deus pode ser constatada através da razão, rejeitando qualquer crença religiosa, admite que Deus existe, mas rejeita por completo a Sua revelação à humanidade. Para o deísmo, Deus não possui atributos morais nem intelectuais, duvidando até que Ele tenha influenciado na criação do Universo. O deísmo é a religião natural baseada no raciocínio puramente humano.
O Materialismo – Coloca as coisas (bens materiais) no lugar de Deus. Declara que a única realidade é a matéria e que o homem é apenas um animal, por isso não é responsável por suas atitudes e atos. Ensina que os diferentes comportamentos físicos e psíquicos humanos são simplesmente motivados da matéria e por isso mesmo o homem não tem do que e nem a quem prestar contas de seus atos.
O Panteísmo – crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente, e imanente, ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Ensina que, no universo, Deus é tudo e tudo é Deus. Deus não é só parte do universo, mas o próprio universo. O hinduísmo é adepto desta filosofia errônea. Esse ensino procura confundir o Criador com a criatura.
Entretanto, é preciso que se diga que a existência do Deus Supremo é a grande afirmação da Bíblia. A Bíblia não tenta provar a existência de Deus, ela simplesmente assume essa existência como um fato.
Para todo o cristão, a Bíblia prova que Deus é uma pessoa atribuindo a Ele características da personalidade. Deus tem a capacidade de pensar, sentir e escolher. Ele vê, ouve, sabe, fala, ama, deseja e trabalha. Deus é uma Pessoa que possui vida, autoexistência e caráter. Como pessoa viva Ele possui os três elementos da personalidade: inteligência, sensibilidade e vontade, isto é, Ele pensa, sente e escolhe.
Deus é uma Pessoa a quem se pode: amar, adorar, conhecer e obedecer. Um relacionamento pessoal entre Deus e o homem torna-se possível porque Deus é uma Pessoa e o homem foi criado à Sua imagem.
Em todo lugar na Bíblia, Deus é revelado como uma Pessoa que está viva e ativa. Ele revelou a Si mesmo para Moisés com “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3.14). Ele é chamado de “o Deus vivo” pelo menos trinta vezes na Bíblia. O Pai do Senhor Jesus Cristo é o Deus vivo (Mt 16.16).
As Escrituras nos revelam o modo do Ser de Deus, isto é, Sua Natureza. A natureza de Deus é identificada com mais frequência pelos atributos. É comum dividir-se os atributos de Deus em duas classes. Isto ajuda tanto à memória como ao entendimento. Vejamos alguns dos Atributos de Deus:
Atributos incomunicáveis, também chamados de não-relacionados, são aqueles que Deus não compartilha com nenhuma criatura, ou seja, são atributos exclusivos Dele e Ele não os comunicou a mais ninguém.
1- Asseidade: (Sl 90.1,2). Deus é auto-existente, e não necessita de nada nem ninguém para continuar a existir, ou seja, Ele não depende de ninguém fora de si mesmo para ser o que é. Obviamente a asseidade de Deus está diretamente ligada a Sua eternidade.
2- Eternidade: (Gn 21.33; Sl 90.1,2). Deus sempre existiu, Ele não foi criado por ninguém e está acima de qualquer limitação de tempo. Ele não tem começo nem fim, e existe sem sucessão de momentos, ou seja, para Ele não existe passado, presente e futuro, pois Seu presente é sempre a própria eternidade.
3- Unidade: (Dt 6.4; Ef 4.6; 1 Co 8.6; 1 Tm 2.5). Deus é um e que todos os atributos Dele estão inclusos em Seu ser o tempo todo. A doutrina da Trindade não contradiz esse princípio, pois as três Pessoas distintas formam um único Deus, ou seja, Sua essência é indivisível.
4- Imutabilidade: (Tg 1.17). Deus não muda jamais, ou seja, tanto Seu ser como Suas perfeições não sofrem qualquer alteração, e Ele não muda, de forma alguma, os Seus propósitos e promessas. Aqui é importante entender que qualquer tipo de alteração que as Escrituras pareçam sugerir é apenas figuras de linguagem para que nós, humanos, possamos compreender de forma mais didática o relacionamento Dele conosco.
5- Infinitude: (1 Rs 8.27; At. 17.24-28). Deus é infinito em Seu ser e não sofre qualquer tipo de limitação. O tempo e o espaço não podem limitá-lo. Talvez a qualidade da infinitude seja um dos atributos de Deus que apresenta mais dificuldade de compreensão por parte dos homens. Geralmente os estudiosos entendem que a infinitude de Deus também aparece revelada através de outros atributos, como a Onipresença, Onisciência, Onipotência e a Eternidade.
6- Onipresença: (Sl 139). Deus não é limitado de nenhuma forma pelo espaço. Sua presença é infinita, de modo que Ele está presente em toda parte com toda plenitude do Seu ser.
7- Onipotência: (2 Co 6.18; Ap 1.8). Deus possui todo poder, isto é, Seu poder é infinito e ilimitado. Deus é soberano e capaz de cumprir todos os Seus propósitos
8- Onisciência: (Sl 139; 147.4). Deus conhece todas as coisas de modo completo e absoluto. Seu conhecimento é infinito e não está sujeito a qualquer limitação. Ele não precisa pedir nenhuma informação, bem como nunca possui dúvidas
9- Soberania: (Fp 2.12,13). Deus controla todas as coisas, pois Ele próprio é soberano e supremo sobre tudo e todos. Ele é quem governa o universo e conduz a História segundo os Seus propósitos eternos. A soberania de Deus não anula a responsabilidade humana, e nem a responsabilidade humana descaracteriza as ações soberanas de Deus